Saúde do casal antes de engravidar

Perante a decisão de uma futura gravidez, os futuros pais devem focar toda a atenção nos cuidados preconcecionais. Um casal saudável antes de engravidar contribui para o sucesso da gestação, porque muitos fatores que condicionam o futuro de uma gravidez podem ser detetados, modificados ou mesmo eliminados antes que a mulher engravide.

O investimento realizado ao longo dos anos na saúde reprodutiva veio demonstrar que uma gravidez planeada diminui drasticamente a morbilidade e mortalidade maternas, fetais e infantis. E a otimização dos resultados pode ser potenciada com a colaboração ativa do pai nas questões de saúde sexual e reprodutiva.

No processo de gerar uma nova pessoa, é fundamental que pai e mãe sejam saudáveis e que a história clínica detalhada do casal e família seja do conhecimento do médico, nomeadamente os antecedentes de doença genética, doença crónica, infeções e uso de medicação. Informações sobre estilos de vida, comportamentos e ambiente psicossocial são também essenciais para a definição de cuidados a prestar de futuro.

SAÚDE DOS PROGENITORES IMPORTA

Apesar de ser a mãe que vai gerar o feto, o pai importa e a presença da figura paterna é essencial no planeamento, no período de conceção e em todo o percurso da gravidez. Há um assumir de novas responsabilidades para ambos, por vezes receios e inseguranças, onde o pai é solicitado a apoiar emocionalmente a companheira em todo o processo. Todavia, para que a futura mãe viva uma gravidez de baixo risco, a saúde do casal não deve ser relegada para segundo plano.

Os dois (mãe e pai) devem disponibilizar-se para conjuntamente falar com o médico de família ou recorrer à consulta preconcecional pensada para ajudar os casais que de futuro pretendem engravidar.
Conhecer antecipadamente as limitações ou os constrangimentos que resultam de doenças específicas dos progenitores e/ou antecedentes genéticos ajuda a minimizar riscos de eventuais complicações na gravidez.

VANTAGENS DA CONSULTA PRECONCECIONAL

O Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco, da Direção-Geral da Saúde (DGS), defende que quando o pai e a mãe expressam vontade de engravidar devem realizar, em primeiro lugar, uma consulta preconcecional para atualizar o historial clínico, ponderar situações de risco reprodutivo e sistematizar recomendações. Para mulheres com doenças crónicas (diabetes, hipertensão, cardiopatias, doenças renais e da tiroide, epilepsia, tuberculose, asma, artrite reumatoide e outras) que podem afetar diretamente a gravidez ou indiretamente através da medicação utilizada no seu tratamento, a consulta preconcecional é mesmo imprescindível.

Por exemplo, os fármacos tomados pela mãe, segundo a DGS, “podem atravessar a placenta e expor o embrião e o feto aos seus efeitos farmacológicos adversos”. Neste contexto, a prescrição de qualquer medicamento para a mãe requer um acompanhamento muito atento por parte do médico e tudo tem de ser muito bem avaliado para que os riscos sejam bastante diminutos para o feto. Os medicamentos utilizados pelo progenitor do sexo masculino devem também ser registados pelo médico que acompanha o casal.

Outra vantagem associada a estas consultas é a possibilidade de identificação de indivíduos e famílias em risco genético, como é o caso das hemoglobinopatias (doenças do sangue que condicionam anemias graves como é o caso da talassemia – anemia hereditária). Sobretudo numa primeira gravidez é essencial verificar a compatibilidade entre pai e mãe através de um hemograma (exame ao sangue). Fora do contexto emocional da gravidez, é mais fácil entender os riscos para os descendentes e tomar decisões quanto ao futuro da gestação, permitindo ao médico planear os testes atempadamente.

O profissional da saúde vai dar ainda especial atenção à exposição e/ou imunidade relativamente às doenças infeciosas e vai querer conhecer o estado vacinal do pai e da mãe e, em caso de necessidade, vai pedir para atualizar, dando prioridade às vacinas contra o tétano, a difteria, a rubéola e o sarampo.

ESCLAREÇA TODAS AS DÚVIDAS

As consultas preconcecionais são também o momento certo para os casais esclarecerem todas as dúvidas, nomeadamente as questões relativas ao uso dos contracetivos e sua interrupção; ciclo menstrual; ovulação; período fértil e o tempo que poderá ser necessário para engravidar. Por exemplo, se após 12 meses ou mais de relações sexuais regulares e sem uso de contraceção não ocorrer a gravidez, o casal deverá ser referenciado, caso deseje, e encaminhado para a consulta de infertilidade.

O encontro entre o profissional da saúde e o casal nesta fase ainda de intenção de engravidar serve ainda para elucidar sobre outros temas pertinentes, nomeadamente as possíveis consequências para o feto da ocorrência na gravidez de uma infeção de transmissão sexual e a importância da adoção, por parte do homem e da mulher, de comportamentos seguros.

O médico tem ainda a oportunidade de avaliar o estado nutricional de ambos, ficar a conhecer os hábitos alimentares e os estilos de vida do casal. Por exemplo, tanto a obesidade como o baixo peso podem ter reflexos negativos sobre a mãe e/ou feto, numa futura gravidez. O consumo de substâncias nocivas como o tabaco, o álcool e outras drogas são igualmente assuntos a debater e alvo de aconselhamento por parte do profissional de saúde.

EXAMES SOLICITADOS

Numa primeira fase, e segundo as diretivas da Direção-Geral da Saúde (DGS), o médico irá prescrever um conjunto de exames de rotina que incluem uma citologia do colo do útero (se a última foi realizada há mais de um ano), uma ecografia ginecológica e análises laboratoriais que irão determinar o bem-estar geral de saúde da futura mãe. 

O médico deverá ainda estabelecer um rastreio de anemia, incluindo, eventualmente, o rastreio das hemoglobinopatias; o rastreio de várias infeções como a sífilis, a hepatite B e C,VIH e avaliar, também, a imunidade da futura mãe à rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus (vírus da família do Herpes). Se a futura mãe ainda não souber o seu grupo de sangue AB0 e Rh, também deverá ser pedida a determinação do mesmo, nesta fase. Ao pai, apenas está recomendado fazer o rastreio das infeções.

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Depoimentos e revisão
Direção-Geral de Saúde
Escrito por
Paula Braga