Como estimular os sentidos do bebé

Há estratégias simples que ajudam e contribuem para o desenvolvimento das capacidades cognitivas e motoras dos bebés. Descubra, para cada sentido, qual a prática mais adequada.

Os cinco sentidos do bebé – tato, olfato, paladar, audição e visão – que são uma porta aberta à experimentação de novas sensações, começam a desenvolver-se durante o processo de gestação e quando o bebé nasce todos os sentidos estão ativos, mesmo que ainda não em pleno funcionamento. “Tudo se inicia na vida intrauterina num contínuo gradual que acompanha e influencia o desenvolvimento cerebral. O despertar sensorial acontece no útero materno”, esclarece Isabel Reis, pediatra.

A formação dos órgãos dos sentidos dá-se logo nas primeiras semanas de gravidez. Aos 22 dias de gestação surgem os orifícios dos olhos e dos ouvidos.

Entre as 8 e as 10 semanas formam-se as papilas gustativas e o feto já se mexe e toca nas paredes do útero. É também nesta altura que surge a sensibilidade em volta da boca e dos lábios.

Às 12 semanas as pálpebras permanecem fechadas para proteger os olhos. Às 16 semanas completa-se a formação do nariz, embora permaneça obstruído.

Às 24 semanas os ouvidos reagem a sons baixos, as pálpebras abrem-se, o feto reconhece o cheiro da mãe, consegue distinguir as carícias vindas do exterior e dá-se o desenvolvimento das papilas gustativas.

Com 29 semanas o bebé tem capacidade de ouvir e de cheirar e já sente sensibilidade à dor.

Entre as 32 e as 36 semanas a audição está perfeita, no entanto, os olhos percebem apenas diferenças de luminosidade, há sensibilidade em todo o corpo e “o bebé é capaz de distinguir o amargo, o doce, o salgado e o ácido, porque ao engolir o líquido amniótico, o bebé foi sentindo os diferentes sabores da dieta da mãe”, sublinha Isabel Reis. São a audição e o tato, os sentidos que dominam toda a gravidez.

Assim, quando o bebé nasce consegue ouvir perfeitamente e é muito sensível ao toque. É capaz de cheirar e de sentir os diferentes paladares e também vê, mas ainda de uma forma difusa, imperfeita, porque a visão para se desenvolver necessita de estimulação da luz e no útero estava escuro. O bebé não distingue as cores e só foca bem a uma distância de 30 a 40 cm.

A visão só atinge o pleno desenvolvimento entre os seis e os oito meses de vida. “Apesar de todos os sentidos estarem em funcionamento, o recém-nascido necessita agora de ser estimulado, de ser exposto a novas experiências sensoriais para impulsionar o seu desenvolvimento motor e cognitivo”, alerta a pediatra.

A aquisição de novas competências passa pela experimentação e repetição e os pais, em especial a mãe por estar mais próxima nos primeiros meses, bem como todos os que estão próximo do bebé, têm um papel fundamental nesta fase de aprendizagem. E estimular os cinco sentidos do bebé passa por promover um conjunto muito diversificado de atividades no dia-a-dia.

“A estimulação faz-se num contexto de relação. Converse com o seu bebé, cante, embale-o. Esqueça a televisão! As imagens e os sons são muito rápidos para o bebé, numa fase em que ele ainda não é capaz de os acompanhar. A televisão funciona como uma estimulação excessiva que o cansa e satura causando-lhe stresse que muitas vezes se traduz por crises de choro difíceis de consolar”, acautela a pediatra.

Primeiros 1000 dias importam

Hoje em dia é reconhecida a importância dos primeiros 1000 dias de vida da criança, que consistem na soma dos dias de gestação mais os primeiros dois anos de vida.

“Os primeiros 1000 dias de vida do bebé são muito intensos e determinantes para o seu futuro. É neste período, num estreito diálogo entre o domínio sensorial e as capacidades cognitivas e motoras da criança, que se faz a aquisição de novas competências como o andar, o falar, o pensar”, sublinha Isabel Reis.

Este período é considerado determinante para a saúde física e mental da criança para toda a vida. Quanto mais estímulos a criança tiver neste intervalo de tempo, maior é o número de ligações estabelecidas entre os neurónios, o que aumenta a sua capacidade de aprendizagem.

Neste sentido, há que potenciar ao máximo estes primeiros 1000 dias e, para isso, os pais devem estar atentos e contribuir para o desenvolvimento cognitivo e motor da criança, para um crescimento saudável e desperto para o mundo que o rodeia, bem como para a sua socialização.

É fundamental, no entanto, adequar os estímulos à idade do bebé porque as necessidades de uma criança de dois meses são diferentes das de uma de seis meses ou de 12 meses, por exemplo. Para ajustar da melhor forma e ser bem-sucedido nos resultados, é importante que os pais conversem com o profissional de saúde que acompanha o bebé e peçam conselhos para estimular o filho de acordo com a fase de desenvolvimento em que este se encontra.

Como estimular os sentidos do bebé

É essencial sublinhar que nunca se estimula um sentido de forma isolada porque todos estão interligados. No entanto, há estímulos mais indicados para o desenvolvimento de um sentido específico. Conheça algumas sugestões simples que podem ajudar a impulsionar o desenvolvimento dos cinco sentidos do bebé.

TATO

1. Pegue no bebé e embale-o. O contacto da mãe com o bebé, pele com pele, é muito importante para a criação de um vínculo.

2. Massaje o bebé suavemente. Este momento especial de interação ajuda o bebé a relaxar. Use um óleo ou creme hidratante indicado para bebés e usufrua deste momento a dois.

3. Brinque com o bebé massajando as plantas dos pés ou as palmas das mãos e ajude-o, numa primeira fase, a ir abrindo as mãos. Pode também utilizar um boneco pequeno, leve e macio, e afague-o com o mesmo e vá-o estimulando para que o agarre.

4. Forre o chão com diferentes texturas de tecidos (tule, seda, cetim) para o bebé brincar e estimular o sentido do tato, faça-o rebolar, ajude-o a virar-se.

AUDIÇÃO

1. Antes de nascer o bebé já conhece a voz da mãe e a do pai ou mesmo dos irmãos. Para estimular a audição, fale com ele para que aprenda a comunicar. Não desista, mesmo que o bebé não entenda nada. Oiça música.

2. Dance com o bebé nos braços, cante para ele melodias suaves ou mesmo alguma música que cantava quando estava na sua barriga. Uma voz conhecida acalma-o, tranquiliza-o.

3. Leia pequenas histórias, crie pequenas narrativas acerca das suas rotinas, use timbres e tons de voz diferentes, com o objetivo de estabelecer comunicação com ele.

4. Agite um brinquedo com som, tipo roca, e estimule o bebé a seguir o som e mesmo a pegar no objeto. O bebé carece de sossego, mas também necessita de ser ambientado aos sons das rotinas caseiras. 

OLFATO

1. Deem ao bebé a oportunidade de experimentar cheiros diferentes, além do leite materno que ele já conhece muito bem. Em casa promova a difusão de cheiros, através do chá, do café, etc.

2. Utilize também o aroma das ervas de cheiro, das flores e dos frutos para ambientar a sua casa e estimular o olfato do seu filho. Sempre aromas suaves, nada de muito intenso. Também pode ir falando com ele e dar-lhe a cheirar os frutos da época, nomeadamente laranjas, maçãs, ananás, meloa, entre outros.

3. Desfrute dos espaços ao ar livre com o seu bebé. Passear nos jardins é ótimo para o bebé sentir os cheiros da terra, das árvores, das plantas e acalma-o.

4. Outra experiência sensorial para o bebé estimular o olfato é cozinhar com ele por perto. Os aromas alimentares são igualmente muito interessantes e diferentes. Com o crescimento do bebé ofereça-lhe pedaços de fruta, de legumes para ele cheirar e provar.

PALADAR

1. Idealmente o bebé alimenta-se somente de leite materno até aos seis meses e depois disso é importante que o bebé experimente novos sabores e texturas na sua alimentação. 
Esta diversidade ajudará o bebé a desenvolver o paladar, além de ajudá-lo a mastigar e a deglutir.

2. Com o passar dos meses, evolua dos purés ou papas, para alimentos de consistência mais dura. Quando isso acontecer permita à criança ‘brincar’ com os alimentos, deixe-o manusear pequenos pedaços de fruta, de legumes para ir experimentando.

3. Incentive-o a experimentar novos sabores, novas texturas e alimentos com cores diferentes. Importa referir que o bebé quando nasce já distingue o amargo, o doce, o salgado e o ácido, preferindo já o açúcar a todos os outros.

4. O sal e o açúcar são dois aditivos que não deve oferecer ao latente até, pelo menos, um ano de idade. Os alimentos já contêm sal e açúcar na sua composição.

VISÃO

1. Quando nasce o bebé tem uma visão ainda limitada e pouco focada. Só entre os seis e os oito meses ele vê bem. Numa primeira fase aposte em mobiles geométricos pouco coloridos, mas com contrastes branco/preto Utilize depois formas simples com cores vivas.

2. Na rua permita-lhe ver as coisas em redor, mas não o exponha diretamente ao sol, coloque-o, por exemplo, debaixo de uma árvore para que ele possa observar o agitar das folhas.

3. Estimule a visão com bonecos pequenos e macios. Procure que o bebé foque o olhar no brinquedo e depois incentive-o a segui-lo conforme o desloca.

4. Chame pelo seu nome e brinque com ele sempre com o olhar focado um no outro. A visão desempenha um papel importantíssimo enquanto não há verbalização.

Cuidados ao bebé
Depoimentos e revisão
Isabel Reis,
Pediatra.
Escrito por
Paula Braga